ANEMIA MORAL
- mariamagdalaam
- 4 de jul.
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Por Magdala Monteiro
O valor do pensar e da capacidade que todo ser humano tem de criar, ampliar e fazer a manutenção das ideias, direcionando-as, é o que o encaminhará ao próprio crescimento, capacitando-o a fazer refletir ao redor a sua experiência.
Afinal, é mesmo uma tarefa grandiosa e de muita responsabilidade para aquele que se detém na atividade de divulgar ideias, e ao mesmo tempo promover o conhecer nos outros, estimulando as mentes.
“O Pensamento é criador. Assim como o pensamento eterno projeta, ininterruptamente, no Espaço, os germens dos seres e dos mundos... ” 1
A anotação acima é para ensaiar nossas primeiras meditações sobre um capítulo que trata do tema “O Pensamento”, em uma das obras do nosso querido Apóstolo do Espiritismo, Léon Denis.
Vive-se hoje, momentos de aceleração do pensamento, de atividades múltiplas, que geram o transtorno da ansiedade, e alguns desgastes mentais, ainda sem identificação muitos dos problemas nesse campo acarretam cuidados com a saúde mental de forma recorrente e absolutamente cada vez mais necessários. Talvez nunca se tenha dado tanta importância a manutenção da mente alerta e direcionada, como atualmente.
Sendo assim, creio eu, que estudar sobre o pensamento, entender como se processa a vida em nossas mentes e nas mentes de outros, é de capital importância.
O mestre de Tours anotou:
“O que há de nobre e elevado, no domínio da inteligência, emana de uma causa eterna, viva e pensante. Quanto maior é a impulsão do pensamento em direção a esta causa, mais alto ele paira, mais radiosas são, também, as claridades entrevistas, mais inebriantes as alegrias sentidas, mais poderosas as forças adquiridas, mais geniais as inspirações.”2
O espírito se eleva à medida que cuida do seu desenvolvimento, vivenciando e experimentando a vida, mas é no aprendizado que emerge de seu mais profundo ser e ao respeito da sua condição ora, de humanidade, que percebe suas potências, residentes no íntimo, para que venham a desabrochar.
Inúmeros caminhos são percorridos pelas almas, muitas vezes densos, doloridos, que possibilitam as meditações sobre a vida dura e ações firmes surgem, envolvendo-as em uma atmosfera própria, e cria um crescer e um florescer possíveis.
Acredito que haja uma grande reflexão a ser feita, nas entrelinhas do capítulo citado acima, cuja convocação nos é sugerida, para que: ergamos os olhos, agucemos os ouvidos aos rumores do mundo invisível e através de uma conversa conosco mesmo, elevada para esse tal mundo, identifiquemos o quanto de apoio recebemos, ao longo dos dias, pois que uma vez inspirados, criamos, sempre e mais, através o trabalho que desenvolvemos na vida, tendo nossa inteligência estimulada.
A alma mergulhada na inspiração e amorosidade da fonte inesgotável de todo amor, torna-se mais bela e criativa, e constrói no cotidiano as relações que se revelam em seu íntimo. E nessa movimentação de ideias que surgem, ela toma conhecimento de si.
Pode a filosofia espírita ensinar o ser, através o estímulo, ao uso da bondade, a ser solidária, mesmo cansada das horas duras da vida, aprender a usar de coragem moral, para conquistar virtudes.
A virtude, tema recorrente desde as relações do mundo antigo, tanto quanto na hora presente, é tão procurada, mas não plenamente compreendida e alcançada pelas criaturas, mesmo por aquelas que se denominam “éticas”, que num esforço extremo buscam conquistar.
“Em um sentido ético, a virtude é uma qualidade positiva do indivíduo que faz com que este aja de forma a fazer o *bem para si e para os outros. Platão considerava a virtude como inata, como uma qualidade que o indivíduo traz consigo e que, portanto, não pode ser ensinada. Contrariamente a Platão, Aristóteles considerava que a virtude podia ser adquirida, sendo na realidade resultado de um hábito. Oposto a vício. E na filosofia moderna, a palavra passou a designar a força da alma ou do caráter. Nesse sentido moral, designa uma disposição moral para o bem. Kant defendeu a virtude como a força de resolução que o homem revela na realização do seu dever. As virtudes designam formas particulares dessa disposição para o bem: a coragem. a justiça, a lealdade.” 3
Independente das inúmeras elucubrações dos filósofos que antecederam as ideias que a Filosofia Espírita nos traz, vejamos o que diz Denis:
“Aprendei a abrir, a folhear e a ler o livro oculto em vós, o livro das metamorfoses do ser. Ele vos dirá o que fostes e o que sereis. Ensinar-vos-á o maior dos mistérios, a criação do eu, pelo esforço constante, pela ação soberana que, no pensamento silencioso, faz germinar a obra e, segundo vossas aptidões, vosso tipo de talento, far-vos-á pintar as mais belas telas, esculpir as formas mais ideais, compor as sinfonias mais harmoniosas, escrever as mais belas páginas, criar os mais belos poemas.” 4
A renovação da humanidade tão proclamada como se fosse uma salvação, algo doado, um milagre divino que se opere nas mentes, não é real. Inclusive no campo do espiritismo, infelizmente ainda vemos mentes envolvidas com a ideia de que recebem benesses, porque são merecedoras por tudo suportar sem reclamar.
O ser humano precisa focar no mais interno de si, descobrir-se, verificar o seu potencial, e avançar rumo a sua própria consciência, construindo hoje, o que vislumbrará em seu futuro. Das sombras o ser vai se afastando, vai se desfazendo de preconceitos, de temores, e deslumbra harmonias outras, que vibram no universo, para encontrar novos caminhos.
Ainda raciocinando com o conteúdo em estudo, identificamos que tudo o que temos ao nosso redor é para o bom proveito de todos. Tudo nos fala e vibra, o visível e o invisível. Portanto vivamos, celebrando a vitória de estarmos no tempo presente pensando, criando, percebendo a natureza como a maior ensinante. Sejamos bons aprendentes, pois só quem sabe ver, ouvir, pensar e agir porque tudo observa, insere-se no processo de auto-observação e agrega no interior e no exterior, iluminando caminhos.
É urgente que aprendamos a transpor os muros, a sair de determinado cercadinho que nos ofereceram, usando a habilidade de pensar e refletir e nos tornarmos conscientes de que não somos sábios, só porque temos em mente meia dúzia de perguntas, mas devemos exercitar as nossas mentes.
Segundo o estudo do pensamento proposto pelo mestre de Tours, estamos distante das produções intelectuais de terna beleza por causa de nosso distanciamento das coisas divinas, que deveriam ser vistas pelos olhos da alma e porque deixamos de crer e amar. Sendo o único remédio contra a Anemia moral nos voltarmos para as fontes celestes e eternas que nos animam o ser.
Invistamos em nossos potenciais e que a persistência pela busca do saber, compreendendo o nosso papel de ensinantes/aprendentes nos qualifique em nossa proposta de vida para atingirmos as metas desejadas. Que o pensar contínuo, conquistado após longas caminhadas quanto seres imortais, seja o nosso exercício constante.
Foquemos nas maravilhas da vida que germinam em nós, a fim de que a anemia moral não nos adoeça.
Referências:
[1,2,4] DENIS, Léon. O Problema do Ser e do Destino. Edição 1ª. RJ. Editora CELD, 2011, páginas 386, 387, 391.
[3] JAPIASSU, Hilton e MARCONDES Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. Edição 2ª. RJ Jorge Zahar Editor, 1993, página 243.
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