As 6 categorias para examinar a carta psicografada
- mariamagdalaam
- 2 de nov.
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Gabriel Lopes Garcia
Uma das tarefas da pesquisa espírita é examinar o conteúdo produzido via mediúnica. No trabalho de elaboração do Espiritismo, Kardec criou e usou alguns critérios de avaliação das comunicações obtidas. Ele expôs os seus métodos, por exemplo: em O Livro dos Médiuns de modo difuso ao longo da obra; e no item II da introdução de O Evangelho segundo o Espiritismo.
Dentro desse campo, a análise da identidade do Espírito comunicante no caso das cartas psicografadas é relevante, pois trata-se de decidir pela presença da pessoa específica que foi chamada. As nuances do intercâmbio mediúnico requisitam o aprimoramento das metodologias para a escrita e o exame dos ditados atribuídos aos falecidos. O “padrão ouro” nesse tipo de pesquisa é encontrar informações que só o Espírito e os familiares sabiam ou descobrir coisas (eventos, objetos guardados, parentes distantes etc) reveladas no texto.
A semelhança de escrita e assinatura podem ser evidências, inclusive submetidas a análise de um perito em grafoscopia. Mas é um critério insuficiente pois o estilo pode ser copiado por um Espírito falsário, além das diferenças de grafia devido ao médium. É preciso analisar a linguagem, o pensamento dos Espíritos, bem como as circunstâncias da produção mediúnica.
Kardec tinha tempo e recursos limitados para o empreendimento, então ele fez o que era possível em sua época. Atualmente as pesquisas científicas têm novos métodos para examinar elaboração e conteúdo das cartas psicografadas, embora mantendo o mesmo “padrão ouro” citado acima. Vamos dar um breve panorama dessa área promissora, que leva a pesquisa espírita a um patamar mais rigoroso e sistematizado.
Informações prévias limitadas e ambiente controlado
Embora possamos manter a prática mediúnica espontânea em nossas reuniões regulares, no caso das pesquisas sobre cartas psicografadas é preciso fazer algumas adaptações. Isso nem sempre é uma situação confortável para o médium, mas é importante para o rigor metodológico. Os mecanismos de controle são importantes, pois a internet dá acesso a informações de todos os tipos sobre as pessoas, mesmo que elas não saibam ou não as tenham compartilhado.
Devido a isso, e ao método científico, nas pesquisas recentes algumas prevenções são tomadas. Antes da redação da carta, o procedimento incluiu uma breve entrevista de poucos segundos entre o/a médium e os solicitantes de mensagem da pessoa falecida, a quem a autoria da carta pode ser atribuída. Os requerentes também preenchem uma ficha com dados básicos do(a) finado(a), como nome, idade, causa e data da morte. A sessão mediúnica é filmada, e o/a médium escreve a carta sem interação com os solicitantes durante o transe.
É uma estratégia para limitar o acesso do(a) médium a muitas informações sobre o Espírito e os encarnados que lhe pedem a mensagem. Esse é um problema que acontece em muitos ambientes espíritas que transformaram a psicografia em palco para celebridades, com muita mídia e nenhum rigor doutrinário-metodológico.
Com o registro audiovisual é possível aumentar o controle da atividade mediúnica, eliminando outros fatores de dúvida, como consultas na internet ou o recebimento de informações por auxiliares. Psicografando às claras também se elimina qualquer desconfiança de pegar material preparado por terceiros.
Exame conjunto e categorizado
No caso de haver de fato psicografia de carta(s), estas são avaliadas pelos pesquisadores em entrevistas com os solicitantes, na ausência do(a) médium. O conteúdo do texto é destrinchado e cada afirmação é classificada em seis categorias. Isso é importante para refinar a análise, pois as instruções de Kardec eram mais genéricas. Seguem as categorias propostas mais comuns das pesquisas científicas.
1ª) Informação não avaliável: são as saudações ou expressões vagas. Em alguns casos, no entanto, o modo de saudar característico de uma pessoa pode ser evidência de identidade.
2ª) Não reconhecida: são os dados incorretos ou implausíveis. É importante marcar esse tópico para refutar em parte ou totalmente a identidade atribuída na carta psicografada.
3ª) Genérica: são conteúdos amplos que poderiam valer para muitas pessoas. Os picaretas da área usam este recurso com bastante frequência para pegar os incautos e os crédulos.
4ª) Divulgada: são as informações previamente informadas ao médium. Por isso o contato mínimo e o veto à internet. Esse problema se alastrou nas sessões de médiuns celebridades.
5ª) Dedutível: são as inferências possíveis a partir de dados já fornecidos. O médium pode fazer as conclusões de modo voluntário ou até mesmo inconscientemente.
6ª) Específica: são os detalhes reconhecidos pelos pais e improváveis de terem sido obtidos por meios convencionais. Este é o “padrão ouro” que estamos insistindo desde o inicio.
As afirmações consideradas específicas descrevem hábitos e características pessoais do falecido que, segundo os solicitantes, não poderiam ser deduzidos ou conhecidos pelo médium. Nesse aspecto, embora tenha havido um avanço da pesquisa pioneira de Kardec, ainda assim a própria definição do que se considera específico pode ser subjetiva.
Não negamos a subjetividade do cientista na escolha teórica e na execução metodológica, mas é importante ajustar os parâmetros porque senão a estrutura de análise pode ficar pouco compatível com o rigor exigido em um trabalho científico. Uma sugestão é dirigir perguntas objetivas, como “qual é o nome dos seus tios?” ou “qual é o nome do seu melhor amigo?”, com respostas previamente registradas. É um método adicional para avaliar a precisão das informações contidas na carta.





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